AFAGO

POR LEIR PONTES


AFAGO





AFAGO é estar aberto para entender as resistências do outro e, mesmo assim, não desistir; é sentir o outro sem o receio da rejeição; é trazer alento, quando necessário. AFAGO é o ZELO INCONDICIONAL PELO INDIVÍDUO nesse mundo repleto de individualidade...




A ação AFAGO aconteceu em 31 de maio de 2011, nas dependências do IFCE Aldeota. 

RELATO DA AÇÃO AFAGO DE 31 DE MAIO DE 2011



Para saber disso, precisei observar as pessoas pelo caminho que percorri...
Saimos às 17h50 lá de casa, eu, Fran e o Rogério (um amigo que nos acompanhou ). A presença dele foi muito importante, pois deu um imenso apoio durante a experiência.
Na rua que eu moro alguns moradores ( Seu Gadelha, a esposa dele, Dona Linduína e uma amiga deles )  conversavam na calçada e me avistaram de longe. Percebi que comentavam o que podia ser eu estar vestida daquele jeito inusitado. Quando me aproximei deles, que continuavam a me olhar curiosamente,O Seu Gadelha,  cantou a melodia da música  Valsa Nupcial. Olhei pra eles e disse que eu ia fazer uma Performance na Igreja da 13 de Maio. E a amiga do casal disse: " num disse que era teatro que ela ia fazer!". Me despedi e continuei o meu percurso.



Um pouco mais a frente, em frente a banca de revistas, ao lado da Panetiere, encontrei duas colegas de Teatro que pergutaram: "O que é isso"? ", "Onde é que tu vai assim desse jeito"?
Na hora pensei rapidamente o seguinte: " Meu Deus, ainda me surpreende que pessoas que se dizem de Teatro me façam perguntas como essa".Respirei fundo e pra não ser grosseira  respondi:
"É uma ação e eu sou uma atriz. Como posso ter vergonha de me expor em público, se o meu trabalho é a própria exposição." Me despedi das duas e continuamos o nosso destino.
Logo aquele momento, refleti rapidamente que EU NÃO HAVIA AFAGADO AQUELAS DUAS, POR MEU EGO TER SIDO ATINGIDO. Assim tratei de sublimar a energia de incômodo à uma mais serena.


Decidimos ir caminhando pela 13 de Maio. No trajeto, passantes estranhavam a minha forma de vestir e a minha posição de segurar o avental de braços abertos para baixo.
Logo após a sorveteria, encontrei uma Sra que segurava uma imagem de Nossa Senhora.  Olhei para aquela mulher e pedi verbalmente para lhe dar uma abraço. Ela aceitou. Quando fui abraçá-la, percebi que ela protegia com muito carinho e zelo, a estátua da Santa. Em seguida, fiz um carinho na imagem e aquela Senhora sorriu. Dei um beijo com carinho na testa dela. Ela parecia uma criança que recebia o afeto de uma mãe.  Depois continuei o meu caminho.
Chego a Igreja de Fátima. Na frente, havia uma quantidade razoável de pessoas, as quais mantinham reverência aquele lugar. A maioria permanecia em silêncio, e os que conversavam, faziam em volume de voz baixa. Me direcionei  a lateral da Igreja e percebi que as pessoas que estavam ali me observavam. Ouvi alguns comentarem: "É promessa". Continuei a caminhar. Parei na soleira de uma entrada da Igreja, a qual estava cheia. Observei a voz do Padre durante a missa e a reação das pessoas, que se encontravam dentro daquele recinto. Algumas pessoas olharam para mim e ficaram surpresas com a forma como eu estava vestida. Percebi que duas mulheres não paravam de me olhar. Naquele instante, me senti uma assombração. Já que elas me olhavam com um ar de medo e curiosidade. Uma mulher que estava ao meu lado, encostada na soleira da porta lateral da Igreja, me tomou o foco. Por eu ter encostado sem querer na bolsa desta, ela me olhou com uma cara de incômodo e receio. A reação dela, por a bolsa para frente.


É possível, que ela pensasse que eu era uma "descuidista", "uma fazedora de Elsa". Mas decidi sair dali e não fazer terror psicológico na mulher. Por esse não ser o objetivo da proposta da AÇÃO AFAGO.
ACHEI ENGRAÇADO SER SUPOSTAMENTE UMA ASSOMBRAÇÃO, na impressão que tive das duas mulheres, e “UMA FAZEDORA DE ELZA”, na impressão que tive da mulher do portal.
Continuei caminhando, parei em uma rampa de acesso dos fiéis à Igreja e me escorei em uma espécie de corrimão. Havia ali, um refletor que iluminou meu rosto de baixo para cima.
Subi a rampa e caminhei até uma certa distância da entrada principal da Igreja. Fiquei um bom tempo, observando a missa, as pessoas de dentro e as de fora da Igreja. Dentre elas, um homem jovem com uma cara sisuda e com roupa suja mostrava uma placa de papelão escrita:
“ Me ajude a comprar uma janta. Tô com fome”. Ele  parava e mostrava a placa as pessoas, que acenavam com um gesto de não com a cabeça.


Caminhei segurando o avental com os braços abertos para baixo e sentei na escadaria da Igreja. Na escadaria, havia a minha direita, pessoas sentadas em silêncio que comiam pipoca, e a esquerda, um garoto, o pai e uma mulher em pé. Estendi o avental e percebi que pessoas que se dirigiam ali me observavam curiosas. Pareciam esperar algo. Fiquei de pé e joguei o avental para frente. Repeti esse movimento. Parei.
 Me dirigi a Praça da 13 de Maio. Quando tentava atravessar a rua, um corroceiro sorriu pra mim e eu retribui sorrindo. Ele disse que eu podia atravessar que ele me protegia. Agradeci com a cabeça. Me direcionei a estátua de Nossa Sra conduzida pelas chamas das velas acesas pelos fiéis. Ao chegar, olhei para olho da Santa. Fiz dois movimentos em torno  desta. Um no sentido horário, e o outro, no sentido anti horário. Parei e permaneci observando umas meninas que mexiam na velas. Uma das garotas me perguntou o que era aquilo que eu estava fazendo. Não respondi. Apenas sorri.Peguei um vela, acendi fazendo um pedido. Sorri para as meninas. E me direcionei ao meio da Pça, o qual havia um caminho cercado por verde. No percurso, encontrei vários meninos e duas meninas, que vendiam bombons e que me seguiram.
Caminhei rodopiando e jogando o avental pelo meio da praça. Um casal de adultos tentava passar, então parei de rodopiar. O homem olhou pra mim e sorriu. Eu também sorri para ele. Continuei ao movimento anterior, mas sem o rodopio. Parei e vi uma moça sentada em um banco. Pensei, hesitei e decide ir lá de uma vez. Sentei ao lado dela e percebi que ela, mesmo escutando um som em um mp3, não estava bem emocionalmente.  Falei palavras de apoio e me retirei.
Retomei a caminhada, desta vez fui à calçada da avenida 13 de Maio que dá acesso aos veículos. Ali caminhei devagar. Observei um sacerdote que recebia e guardava dinheiro de santinhos vendidos por uma mulher que perambulava pelas barracas, as quais vendiam objetos religiosos. Decidi caminhar de costas e rapidamente entre duas barracas. De repente, um dos meninos que vinha me seguindo, tomou um susto e deu um pulo.
Um jato de luz projetada de um buraco no formato de um quadrado me chamou a atenção. Caminhei até ele e continuei a caminhar em cima dele. Me  sentei e cobri todo aquele quadrado com o avental e pude olhar a luz que veio de dentro dele. As crianças que estavam me seguindo se aproximaram e começaram a perguntar, se o que eu estava fazendo era teatro. Disse que sim, que podia ser, que o que eu estava fazendo era me divertir. Eu disse que gostava de olhar para luz. Mas só podia fazer isso, cobrindo boa parte dela. Porque se eu olhasse diretamente pra ela, ela pode me cegar. Fiquei tocando a luz com meu  dedos, que deslizavam pelas grandes contidas no quadrado. Falei que eles podiam tocá-la se quisessem. Eles não tiveram interesse. Mas continuavam a me observar e a me acompanhar. Por seguinte, perguntei se eu poderia brincar com eles. Coloquei um por vez nos braços e rodei. Alguns eu botei de cabeça pra baixo. Me despedi deles. Já era 19h10, quando eu, Fran e Rogério resolvemos tomar um ônibus para retornar ao caminho da partida.



Nessa vivência:
 AFAGUEI com a PALAVRA DE CONFORTO À MOÇA DO BANCO;
AFAGUEI pela  BRINCADEIRA COM AS CRIANÇAS;
AFAGUEI uma SRA COM OLHAR TRISTE, esta segurava uma estátua de Nossa Sra;
AFAGUEI com o OLHAR, um carroceiro, e ainda;
AFAGUEI com beijo carinhoso, um amigo.
Um abraço.